O robô humanoide Neo vem nas cores cinza, nude e preto (Foto: Divulgação 1X)

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Os robôs “humanoides” deixaram de ser mera ficção e devem entrar na casa dos americanos a partir de 2026.

A nova geração de robôs limpa a casa, passa roupas e até ajuda a cozinhar. 

Nesta semana, a empresa de inteligência artificial 1X lançou o Neo, o primeiro robô “pronto para o consumidor”. Com design que lembra o corpo humano (pés, pernas, braços e cabeça), o robô de 1,70 metro de altura e 30 quilos é capaz de realizar atividades rotineiras como guardar copos, abrir portas, dobrar roupas e regar plantas.  

Mas, ainda que cumpram funções domésticas e estejam disponíveis para pré-venda, os chamados “mordomos ou faxineiras” do futuro estão longe da perfeição. Eles demoram para realizar qualquer tarefa, andam e se equilibram com lentidão, em comparação a um adulto, e muitas vezes a ordem de comando precisa ser repetida. Mas não é só isso. 

Pegadinha? 

Embora Neo seja vendido como um robô autônomo, ele é teleguiado por alguém usando óculos de realidade virtual.  

Uma pessoa “de carne e osso”, em algum lugar dos Estados Unidos, comanda os movimentos do robô. Ou seja, um desconhecido vai “entrar” na sua casa e te servir pelo custo de US$ 20 mil (R$ 106 mil) – que é o valor do robô.  

Outro ponto é que a facilidade tecnológica funciona melhor conforme o dono passa mais informações para o robô. Uma praticidade que se contrapõe com a vigilância controlada –descrita por George Orwell no livro 1984 – cada vez mais real e presente, e lança a dúvida: o que vale mais nos dias de hoje, tempo ou privacidade?  

Neo, o robô que ajuda nas tarefas de casa, deve chegar ao mercado em 2026 (Foto: Divulgação 1X)

Quem são e o que fazem os robôs  

Os robôs que ajudam em tarefas já são usados em fábricas ou até mesmo em pequenos afazeres domésticos, como o TidyBot, um modelo que recolhe roupas do chão. A aparência, no entanto, não lembra a de uma pessoa. Já o robô humanoide é projetado para se parecer com uma pessoa e ter e os movimentos do corpo humano.  

Neo pode ser o primeiro, mas não é o único robô do tipo em desenvolvimento. Outros dois modelos na mesma proposta em estágio avançado são o Optimus, da Tesla, e o Figure 03, da Figure AI, uma startup apoiada pela Microsoft, Jeff Bezos (Amazon) e pela Nvidia.  

Enquanto o Neo funciona com um clique no aplicativo ou comando de voz com a ajuda de um ser humano, o Optimus Gen 2 e o Figure 03 funcionam autonomamente a partir do que aprendem ao observar alguém fazendo a tarefa, seja por vídeo ou demonstração.  

Este trabalho de “ensinar” os robôs, inclusive, abriu outro mercado não só nos EUA. Na Índia, por exemplo, uma empresa tem cerca de mil funcionários que se dedicam a fazer as atividades para criar base de dados aos robôs (veja como funciona abaixo).  

Outra diferença é o foco da Tesla ser criar robôs a partir da sua tecnologia artificial para serem usados em suas próprias fábricas. O Optimus já apareceu na sua rede social X dançando, servindo pipoca no saco e dobrando uma camiseta.  

O Figure 03, por sua vez, usa um software chamado Helix (que funciona como o cérebro dele) e é projetado para ser fabricado em larga escala, tanto em aplicações industriais quanto domésticas. A previsão é que chegue às residências no próximo ano.  

Em 2024, Elon Musk, dono da Tesla, disse que pretendia começar a vender seus robôs com formato de gente a partir desse ano. A menos de dois meses de 2026, nenhum anúncio ainda. O bilionário é conhecido por fazer promessas ousadas e nem sempre cumprir seus prazos. O valor do androide está previsto entre US$ 20 mil a US$ 30 mil (R$ 106 mil a R$ 160 mil). 

A Tesla Bot apresentou nessa semana o seu robô androide na Feira Internacional de Importação na China (Foto: EFE/EPA/ALEX PLAVEVSKI)

Robô japonês, europeu e chinês  

A corrida pelos robôs domésticos dentro da casa das pessoas é acirrada.  

O Japão foi pioneiro, com o Asimo da Honda, apresentado em 2000. O simpático robozinho, que rodou o mundo para demonstrar sua tecnologia, foi descontinuado em 2018. A Honda continua no desenvolvimento de robôs com aplicações mais práticas, como auxílio fisioterapêutico e uso em ambientes perigosos, como combate a incêndios.  

Segundo a Federação Internacional de Robótica, as empresas europeias têm robôs colaborativos em ambientes industriais, porém, são mais cautelosas quanto ao uso de humanoides e às implicações éticas da robótica e da IA.  

Também na última semana, a empresa chinesa Xpeng anunciou o robô Iron de segunda geração. A empresa chinesa planeja iniciar a produção em massa dos robôs no próximo ano, segundo a emissora americana CNBC. O foco no momento são as indústrias. Ainda assim, a aparência realista chamou a atenção.  

De acordo com o jornal South China Morning Post, o fundador da Xpeng, He Xiaopeng, abriu o zíper da parte de trás do novo robô humanoide para provar que não havia nenhuma pessoa dentro – depois que seus movimentos realistas causaram incredulidade online.  

Corrida trilionária  

He Xiaopeng, da Xpeng, disse que não sabe quantos robôs a empresa vai vender nos próximos anos, mas assegurou que o total “será maior que o número de carros”.  

O empresário Elon Musk, dono da Tesla, declarou algo semelhante: que cerca de 80% do valor de sua montadora virá dos robôs humanoides Optimus. De acordo com a BBC News, os androides, junto aos táxis-robôs autônomos e os caminhões Cybertruck, são a aposta do bilionário para consolidar a presença da empresa no campo da inteligência artificial (IA).  

Musk não parece sonhar alto sozinho. Nesta semana, investidores aprovaram seu pacote salarial de 1 trilhão de dólares (cerca de R$ 5,6 trilhões). O montante é significativo não só pelo valor, mas pelo fato de a Tesla enfrentar queda nas vendas de carros elétricos.  

O acordo estipula que Musk deverá entregar 20 milhões de veículos ao mercado ao longo de 10 anos (mais que o dobro do número desde a fundação da empresa), e implantar um milhão de seus robôs com aparência humana, aos quais ele chama de “exército de robôs”, segundo a agência AP.  

Ainda de acordo com a BBC News, um relatório divulgado pelo banco Morgan Stanley no início do mês previu que a Apple — que, segundo rumores, também estaria desenvolvendo robôs desse tipo — poderia faturar US$ 133 bilhões (cerca de 750 bilhões) por ano até 2040 com a tecnologia.  

Cores e texturas: os detalhes  

Além da complexidade tecnológica, as empresas investem no design para torná-lo mais “humano” e reduzir a estranheza de ter uma máquina andando pela casa. Os androides têm características específicas no design, na habilidade com as mãos e nos movimentos.  

Neo é revestido com uma malha macia em tons neutros (cinza, nude e preto). “Se não tivermos seus dados, não podemos melhorar o produto. Não é perfeito, mas é útil”, disse o CEO da 1X, Bernt Børnich, em entrevista ao Wall Street Journal.  

Ela testou Neo por um dia. Em suas palavras: “é como ensinar uma criança pequena a fazer as atividades”, referindo-se à lentidão e certa dificuldade do robô em se movimentar. Neo levou dois minutos para buscar uma garrafa de água de dentro da geladeira a cerca de três metros de distância e cinco minutos para colocar dois copos na máquina de lavar louças.  

O Optimus (Tesla) parece um grande boneco com textura plástica nas cores preto e branco. Sem revestimento, dá para ver sua estrutura robótica. Ele tem as articulações aprimoradas para manusear objetos, pois foi projetado para lidar com tarefas repetitivas nas fábricas, auxiliar na fabricação e até mesmo executar funções de automação residencial — tudo isso enquanto aprende com dados do mundo real.  

O Figure 03 é coberto por tecidos laváveis e podem ser removidos ou substituídos sem ferramentas, permitindo trocas rápidas e fáceis. O robô também pode ser personalizado com diversas opções de vestuário, incluindo peças feitas de materiais resistentes a cortes e duráveis.  

Limitações e segurança  

Apesar do visual e das tarefas, os robôs são limitados. O Figure 03 e o Optimus estão mais próximos de uma autonomia geral baseada em IA avançada, enquanto o Neo usa uma combinação de autonomia e controle remoto humano.  

Outra preocupação é a segurança. Em entrevista ao Wall Street Journal, o CEO da 1X, Bernt Børnich, disse que o robô não vai se tornar um robô “assassino”. Ao ser questionado pelo jornal se ele poderia botar fogo na casa ou jogar algo pesado no morador quando este estivesse dormindo, respondeu: “Fisicamente, ele pode fazer, mas não vai. Nós nos asseguramos de que Neo não vá fazer isso. Há várias camadas de segurança. Ele não tem permissão para pegar nada muito quente, muito pesado ou muito afiado”. 

A questão é que até agora o robô humanoide é controlado por outra pessoa.  

A participação humana abriu outras frentes. Como as máquinas aprendem a partir do que veem, cresce o número de “treinadores” humanos que ficam horas realizando tarefas repetitivas, como dobrar toalhas para criar dados físicos que os robôs vão copiar.  

O jornalista do Los Angeles Times Nilesh Christopher visitou a Objectways, localizada em uma cidade industrial no sul da Índia. Ele conta que os funcionários prendem uma câmera GoPro na testa e seguem uma sequência rigorosa de movimentos com as mãos para capturar imagens em primeira pessoa.  

“Naveen Kumar, de 28 anos, fica em pé em sua mesa e começa seu trabalho do dia: dobrar toalhas de mão centenas de vezes, com a maior precisão possível. A maioria deles são engenheiros, e poucos têm muita prática em dobrar toalhas, então eles se revezam no trabalho braçal. Kumar e seus colegas formam um grupo improvável de tutores para a próxima geração de robôs com inteligência artificial” relatou Chrisphofer. 

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