O ex-presidente Jair Bolsonaro. (Foto: EFE/Andre Borges)

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Neste sábado, dia 22 de novembro, Alexandre de Moraes decretou a prisão preventiva de Jair Bolsonaro. A desculpa esfarrapada foi uma suposta possibilidade de fuga, já que Bolsonaro teria tentado romper a tornozeleira eletrônica (alegação sem provas), haveria uma vigília convocada por seu filho Flavio e ele estaria a 13 km da embaixada americana. Tudo extremamente frágil, para dizer o mínimo.

O jurista André Marsiglia resumiu o absurdo jurídico da decisão: “A prisão preventiva só seria possível mediante descumprimento claro das cautelares da domiciliar, o que não ocorreu. É inconstitucional prender alguém por atos de terceiros. A fuga de Ramagem e a convocação de vigílias não podem ser imputadas a Bolsonaro. Além disso, vigília é exercício do direito de reunião, previsto na CF.”

Marsiglia desenvolve os pontos e conclui: “Ao tratar uma vigília religiosa como ‘acampamento golpista’, Moraes dá interpretação política aos fatos. O objetivo evidente é atribuir à família Bolsonaro a responsabilidade pela prisão. A decisão carece de boa-fé, viola princípios básicos da CF e se presta a finalidades políticas, não jurídicas, como de costume.”

Ou seja, estamos novamente diante de um enorme abuso de poder cometido por alguém sancionado pela maior democracia do planeta. Inclusive o advogado de Trump, Martin de Luca, comentou a decisão de Moraes e afirmou ser difícil imaginar um insulto mais gratuito a Donald Trump e ao secretário Marco Rubio, justamente num momento em que as relações entre os países melhoravam.

Mas aqui está o ponto-chave: ninguém pode alegar surpresa, ainda que Moraes esteja sempre dobrando a aposta com requintes de crueldade. Quem está “perplexo” hoje é porque não vem acompanhando as ações do sancionado sádico nos últimos anos. Nada disso deveria surpreender de verdade. Eles avisaram! Todos sabíamos o que ia acontecer, inclusive Bolsonaro.

Por isso, o que realmente causa perplexidade é a postura de alguns na direita. Parem de pensar em 2026! Fingir que existe normalidade institucional no país é um grave erro — e pode ser fatal. Moraes já está mirando em Flavio Bolsonaro, possível candidato. Todos serão alvos do ministro sancionado, que não respeita as leis há muito tempo.

O que as pessoas precisam assimilar, portanto, é que o Brasil já é uma ditadura, um estado de exceção, e que Moraes tem se mostrado, até aqui, “imparável”. Alimentar falsas esperanças é tolice. Apostar numa espécie de autocontenção é perigosa ingenuidade. E até a “cavalaria americana” parece mais distante, pois líderes da nossa direita resolveram atacar Eduardo Bolsonaro e até a bandeira americana em protestos contra o STF.

Quando observamos o comportamento dessa elite — inclusive gente de “direita” — é inevitável pensar que talvez o Brasil mereça, de fato, tornar-se uma Venezuela. Por quanto tempo mais essa gente permanecerá acovardada ou indiferente diante de tanto descalabro, pensando apenas na estratégia eleitoral para 2026? Até que todos os nomes que realmente incomodam Alexandre de Moraes estejam presos?