Bispos católicos dos EUA rompem silêncio e alertam para ‘deportações em massa’ sob o governo Trump

Mensagem oficial aprovada por 216 votos denuncia clima de medo entre imigrantes e afirma que dignidade humana não depende de documentação; texto raro acende atrito entre Igreja e política migratória dos EUA

  • Por Eliseu Caetano, dos Estados Unidos
  • 13/11/2025 09h31
Spencer Platt/Getty Images/AFP Agentes federais, incluindo membros do Departamento de Segurança Interna, da Patrulha de Fronteira e da polícia, tentam conter manifestantes em frente a uma unidade do Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos Agentes federais, incluindo membros do Departamento de Segurança Interna, da Patrulha de Fronteira e da polícia, tentam conter manifestantes em frente a uma unidade do Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos

A Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB) divulgou uma mensagem especial sobre imigração — um tipo de documento que quase nunca é emitido. O texto foi aprovado de forma expressiva: 216 votos a favor, 5 contra e 3 abstenções, durante a assembleia de novembro de 2025. Segundo a própria USCCB, esta é apenas a segunda mensagem desse tipo em mais de dez anos, o que mostra a seriedade do tema para os bispos.

A declaração afirma que os líderes católicos se sentem “compelidos a levantar nossas vozes” diante do estado atual das políticas migratórias e do “ambiente de medo” vivido por imigrantes em todo o país. Eles afirmam oposição explícita à “deportação indiscriminada em massa”, destacando preocupações com operações de imigração perto de escolas, igrejas, hospitais e outras áreas sensíveis.

Os bispos também lamentam a “vilificação” dos imigrantes no debate público e reafirmam um princípio central da doutrina social da Igreja: a dignidade humana não depende do status migratório ou de cidadania. A mensagem usa expressões claras e diretas:

  • “Somos contrários à deportação indiscriminada em massa de pessoas.”
  • “Estamos tristes com o estado do debate contemporâneo e com a vilificação dos imigrantes.”
  • “A dignidade humana não depende do status de cidadania ou de imigração.”

Os bispos também expressam preocupação com relatos de que algumas famílias têm medo de procurar serviços básicos, ir à escola ou até participar de atividades religiosas devido ao temor de operações migratórias.

Por que a declaração chamou atenção:

  1. Raridade: mensagens especiais são extremamente incomuns; a última havia sido em 2013,
  2. Unidade: A votação quase unânime demonstra alinhamento interno dos bispos sobre a gravidade da situação.
  3. Contexto político: Mesmo sem mencionar diretamente o nome de Donald Trump, o texto surge em meio ao endurecimento das políticas migratórias da administração, o que naturalmente aumenta o peso político das palavras dos bispos.
  4. Impacto pastoral: A Igreja Católica é uma das instituições que mais atende imigrantes — e os bispos relatam perceber o aumento do medo e da vulnerabilidade nas paróquias.

Os bispos não apresentam propostas legais específicas, mas pedem:

  • Aplicação humana e proporcional da lei migratória;
  • Proteção de unidades familiares;
  • Respeito a locais sensíveis (escolas, hospitais, templos religiosos);
  • Reforma migratória justa, alinhada à tradição católica de acolhimento ao estrangeiro.

Embora não seja um documento partidário, a mensagem tem repercussão inevitável:

  • Cria tensão entre a doutrina social da Igreja e políticas federais de imigração.
  • Fortalece o papel dos bispos como defensores dos imigrantes, especialmente em dioceses com grande presença latino-americana.
  • Pode influenciar a percepção de fiéis católicos sobre o tratamento dado aos imigrantes pelo governo.
  • Coloca a USCCB como voz ativa no debate público sobre deportações e operações migratórias.
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Os bispos dos EUA, tradicionalmente cautelosos ao se manifestar sobre políticas federais, decidiram emitir um documento raro e contundente, baseado em preocupações pastorais e humanitárias. A mensagem critica diretamente a lógica das “deportações em massa”, denuncia práticas que geram medo generalizado e reafirma que a dignidade humana é um princípio inegociável — independentemente do status migratório.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.