COP30: 1º dia é marcado por consenso sobre agenda e pressão sobre uso de combustíveis fósseis 

Aval imediato mostra a harmonia entre os 194 países, mais a União Europeia, em prol do avanço das pautas prioritárias da conferência, que inclui financiamento climático, transição energética e metas globais de adaptação

  • Por Sarah Américo
  • 10/11/2025 19h25
Ricardo Stuckert / PR cop30 (1) Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a Abertura da 4.ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da CELAC e da UE, na Sala Plenária do Centro de Convenções do Hotel Estelar Santamar. Santa Marta - Colômbia

O primeiro dia da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que começou oficialmente nesta segunda-feira (10), terminou com um consenso entre os países sobre a agenda oficial da conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas), em Belém (PA), e com pressão da entidade para o fim do dos combustíveis fósseis, tema que será um dos destaques da COP30. “Quero agradecer às delegações pelo fantástico acordo que alcançaram ontem à noite. Esse entendimento permitirá que comecemos a trabalhar intensamente desde hoje e possamos explicar ao mundo por que esses temas adicionais realmente importam”, afirmou o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago.

A aprovação da agenda é uma das primeiras etapas de toda COP, e o aval imediato mostra a harmonia entre os 194 países, mais a União Europeia, em prol do avanço das pautas prioritárias da conferência, que inclui financiamento climático, transição energética e metas globais de adaptação. Com a agenda aprovada, as negociações seguem para a “blue zone”, o espaço restrito onde diplomatas de quase 200 nações se reúnem para revisar, palavra por palavra, os textos dos acordos climáticos. Ao todo vão ser mais de 100 documentos.

A COP30 acontece em meio a comemoração do 10 aniversário do Acordo de Paris, que sofre com atrasos no cumprimento das NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas). Na semana passada, um estudo da ONU analisando as NDCs apresentadas até o momento mostrou que as metas assumidas só seriam capazes de reduzir em 10% as emissões até 2035. O fim do uso de fósseis é o ponto-chave para solucionar a crise climática. E, ainda que não esteja previsto na agenda da COP deste ano, há pressão de alguns países e da sociedade civil para que seja discutido. “Já concordamos que faremos a transição para longe dos combustíveis fósseis. Agora, é o momento de nos concentrarmos em como fazer isso de forma justa e ordenada. Concentrarmo-nos em quais acordos firmar para acelerar a triplicação das energias renováveis ​​e a duplicação da eficiência energética“, destacou Simon Stiell, chefe da ONU para assuntos climáticos.

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Stiell tmabém destacou a necessidade de cooperação entre os países para começar a implantação de medidas já acordadas em cúpulas anteriores, reforçando que países fora dos acordos multilaterais para combater o aquecimento global terão inflação maior, em recado indireto para os Estados Unidos, que deixarão o Acordo de Paris – pacto global para frear a crise climática – por ordem do presidente dos EUA, Donald Trump. “Cada ação para construir resiliência ajuda a salvar vidas, fortalecer comunidades e proteger as cadeias de suprimentos globais das quais todas as economias dependem. Esta é a história de crescimento do século 21 – a transformação econômica da nossa era”, declarou.

Um relatório publicado no início de novembro pelo Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) mostra que as emissões de gases causadores de efeito estufa bateram recorde, com envio de mais de 575 bilhões de toneladas ao planeta em 2024. Em seu discurso, Stiell destacou também a necessidade de o mundo aumentar as fontes de energia renováveis e elevar a eficiência energética, mas não mencionou possibilidade de se ampliar a produção de biocombustíveis, como o etanol. O governo brasileiro tem tentado inserir o tema nas discussões, tendo inclusive citado – em um documento da pré-COP- a necessidade de quadruplicar a produção dos biocombustíveis até 2035.

O secretário executivo frisou ainda que o mundo precisa colocar em prática o “Roteiro de Baku a Belém para 1,3 Trilhão” – documento elaborado pelas presidências da COP30, em Belém, e da COP29, no Azerbaijão, para alavancar o financiamento climático e chegar à cifra de US$ 1,3 trilhão a ser pago por países ricos para combater as mudanças climáticas. Um estudo lançado na Academia Brasileira de Ciências na última quarta-feira, e que será apresentado no estande da Planetary Science na COP30, mostra que o Brasil tem total condição de zerar as emissões líquidas dez anos antes da meta.

Vítima de sucessivos desastres ambientais, o mais recebe o tornado no Paraná, que deixou seis mortos e mais de 700 feridos, o governo brasileiro prometeu ampliar a cobertura do Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden). Até 2026, o centro que hoje monitora 1.133 municípios passará a monitorar 1.942 cidades – com isso, a cobertura chegará a 70% da população brasileira. O Cemaden é o principal órgão de monitoramento de desastres do Brasil e já viveu sucessivas crises de falta de financiamento e escassez de mão de obra. Além da ampliação do Cemaden, o governo trabalha para disponibilizar os dados que hoje já existem a Estados e municípios. A ideia é que os entes usem essas informações para desenvolver políticas de adaptação à mudança do clima.