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Tem havido muita controvérsia recentemente sobre o antissemitismo e a ameaça que ele representa para os Estados Unidos como um todo.
Essa controvérsia foi particularmente intensa porque, desta vez, não se trata do antissemitismo de esquerda, amplamente reconhecido e conhecido, como o que vemos nos campi universitários, onde pessoas gritam “Do rio ao mar”, perseguem judeus até uma biblioteca ou arrancam fotos dos reféns israelenses — fenômenos observados nos últimos dois anos. Trata-se do antissemitismo na direita.
A questão ganhou destaque na última semana porque Tucker Carlson, em sua plataforma, realizou uma entrevista com Nick Fuentes, um antissemita conhecido e, em certo momento, pró-nazista. Trata-se de um homem muito jovem, que nunca escreveu muito. Não é um ativista com audiência remotamente comparável à de Charlie Kirk. No entanto, é conhecido. É eloquente. E Tucker o convidou.
Isso gerou enorme controvérsia devido às declarações passadas de Fuentes. Ele defendeu ataques a judeus, sugeriu que eles estão por trás de muitas cabalas ou conspirações nefastas e afirmou que não são realmente brancos. Atacou o vice-presidente JD Vance e sua esposa por ela ser indiana e por terem dado nomes indianos aos filhos. A lista é longa. Esse histórico está bem documentado.
Tucker, ainda assim, optou por entrevistá-lo.
O problema é que isso não ocorreu de forma isolada. Ele já havia recebido Darryl Cooper, um revisionista da Segunda Guerra Mundial. Cooper não é historiador. Tucker afirmou que ele era o historiador mais proeminente escrevendo hoje nos Estados Unidos. Isso não é verdade. Cooper nunca escreveu um artigo ou livro sobre a Segunda Guerra Mundial.
Cooper é conhecido por sugerir que uma cabala nos Estados Unidos — e sabe-se a quem ele se refere — influenciou indevidamente a administração Roosevelt a se aliar à Rússia, em vez de permanecer neutra ou, como sugeriu um convidado posterior, David Collum, aliar-se a Adolf Hitler e aos nazistas.
Muitas das afirmações de Cooper, como abordei em textos e podcasts, são demonstravelmente falsas. Havia, portanto, um contexto prévio.
Portanto, quando Tucker deu a Nick Fuentes uma plataforma ampla — ele tem grande audiência —, a pergunta foi: por que fazer isso? Se o objetivo é convidar um convidado polêmico, é preciso ter muito cuidado, seja da extrema esquerda ou da extrema direita. Esses indivíduos ganham destaque porque geralmente são retóricos, oradores, demagogos e habilidosos com as palavras.
Quando William F. Buckley, em seu famoso programa Firing Line, recebia tais figuras, assumia grande risco. Eldridge Cleaver, um dos fundadores do Partido dos Panteras Negras, condenado por crimes, estuprador em série. O mesmo com Huey Newton, que matou uma pessoa, convidado no programa. William Shockley, o eugenista que Buckley recebeu. George Wallace, ex-segregacionista.
Mas Buckley agia de forma diferente de Tucker. O objetivo não era oferecer uma plataforma sem filtros, sem discordância, exame crítico ou refutação, mas demonstrar a todos que essas ideias não apenas eram perigosas, como podiam ser facilmente refutadas. Buckley submetia-os a interrogatórios constantes — algo que Tucker não fez, o que levanta outra questão.
Ele fez uma entrevista no mesmo formato com o senador Ted Cruz, republicano do Texas, um colega. Em certo momento, eles eram muito próximos. Ainda assim, Tucker usou todo o seu conhecimento, sua inteligência, sua réplica e interrogou Cruz de forma implacável. Trouxe dados. Insistiu na população do Irã. “Você não sabe disso?”
O que quero dizer é: por que conceder uma entrevista a um senador conservador que concorda em 90% com o que você defende e, ainda assim, tentar interrogá-lo, interrompê-lo e fazê-lo parecer tolo? Se é isso que se quer, é um país livre. Mas por que não usar a mesma técnica com alguém que está muito além dos limites do discurso aceitável, alguém que defendeu abertamente punição racista e ostracismo a negros e judeus? Por que não mostrar ao mundo o que Nick Fuentes foi e é? Ele não fez isso.
Por que isso está acontecendo? Por que Candace Owens diz que há um círculo de judeus em Hollywood? Por que Nick Fuentes ganha essa súbita proeminência? Por que esses historiadores revisionistas da Segunda Guerra Mundial?
Acho que parte disso é que a esquerda normalizou tanto o antissemitismo, como vemos nos campi universitários, e basicamente disse que, se você é judeu, apoia Israel, e se apoia Israel, apoia genocídio, demonizando e ameaçando a segurança dos judeus, de modo que pessoas na direita pensaram: bem, a esquerda derrubou as restrições sobre o que podemos dizer e fazer. Vamos aproveitar e fazer o mesmo. Nós, antissemitas da direita, vamos nos aproveitar dessa liberdade — permitir o antissemitismo da esquerda.
Há também demografia. A população judaica não é tão grande. São cerca de 7 milhões. Muitos judeus são não praticantes ou parte do caldeirão cultural, processo natural de assimilação e aculturação. Em contraste, a população árabe e muçulmana nos Estados Unidos aproxima-se de 3,5 ou 4 milhões e está prestes a superar a judaica. Essas populações estão localizadas em estados eleitorais decisivos: Michigan, Pensilvânia, Nova Jersey.
Muitos pensam: sabe de uma coisa? Temos que dar certa margem a ideias antissemitas expressas por esse grupo muçulmano ou árabe específico porque o chamado lobby judaico não é mais tão forte. Está seguindo o caminho do lobby grego. Havia um grupo importante de greco-americanos que garantia tratamento justo à Grécia. Agora estão casados com não-gregosi. E a imigração da Grécia parou. Talvez esta seja uma razão.
Mas há outra razão fundamental para esse antissemitismo perigoso emergir na direita. Quero dizer, primeiro, que o antissemitismo de direita é diferente do de esquerda.
O antissemitismo de esquerda geralmente está entre elites. Encontra-se na universidade. Tem muito a ver com o Oriente Médio em suas manifestações atuais. E costuma ser marxista. Ou seja, os judeus são intermediários astutos que controlam a economia — sai direto da boca de Karl Marx. Era o que os soviéticos faziam. Josef Stalin era antissemita. Além disso, como sabemos, eles são descritos colonizadores nos assentamentos [na Palestina], vitimizadores brancos no binário marxista que a esquerda estabeleceu.
O da direita é um pouco diferente. Persegue e demoniza judeus sob o argumento de que são assassinos de Cristo. Responsáveis pela morte de Jesus. Ou não são completamente brancos, são de uma raça diferente. É muito mais virulento. Portanto, mais facilmente identificável. O da esquerda é mais insidioso porque faz parte de um credo das elites e dos bem-educados, supostamente.
Mas há um elemento-chave permitindo que essas pessoas avancem. Quando avançam e se tornam mainstream, então figuras eleitas como a deputada Marjorie Taylor Greene, republicana da Geórgia, ou ex-assessores do governo como Steve Bannon, ou alguém como Candace Owens — as pessoas entram no bolo.
Acho que a razão para o aumento do antissemitismo é que a base isolacionista do movimento MAGA sentiu que esta era a força motriz, que seria isolacionista e não nos envolveríamos no Oriente Médio. Eram muito desconfiados do que chamam de neocons e cristãos sionistas. Como Tucker disse, ele odeia cristãos sionistas mais do que qualquer outro. Até mais que Osama bin Laden? A Al-Qaeda? O ISIS? Não sei.
Mas eles estavam perdendo influência. O presidente Donald Trump provou que não é neo-isolacionista. É jacksoniano. Ataques cirúrgicos para preservar e reforçar a dissuasão dos EUA. Eliminar Qasem Soleimani, Abu Bakr al-Baghdadi. Destruir instalações nucleares no Irã. Mas ações pontuais, sem guerras eternas.
Eles sentiram que ele estava sendo influenciado indevidamente, como no passado Roosevelt ou Truman talvez tenham sido por judeus, seja para se aliar à Rússia ou ajudar a fundar o Estado de Israel. Portanto, nossa relação com Israel mostrava influência de assessores judeus.
Mas quando olhamos os assessores judeus, são algumas das pessoas mais proeminentes, importantes e brilhantes no movimento MAGA. Stephen Miller, assessor especial do presidente. Jared Kushner e Steven Witkoff foram os arquitetos do cessar-fogo em Gaza. Howard Lutnick foi muito proeminente, secretário de comércio da campanha. Acho que nunca tivemos diretor da EPA (Agência de Proteção Ambiental) melhor que Lee Zeldin.
Portanto, não há cabala secreta de judeus controlando marionetes. Eles são abertos, transparentes, parte do movimento MAGA.
E eu termino com Israel. Essa demonização de que Israel dirige a política externa dos EUA — não dirige. Sempre falam dos neocons e da Guerra do Iraque. Dick Cheney, George Bush, Don Rumsfeld, Colin Powell, Condoleezza Rice — esse era o círculo interno da equipe Bush. Defenderam os seus argumentos e foram ao Congresso para remover Saddam Hussein preventivamente. Não havia judeus com autoridade para tomar essa decisão.
Richard Perle, David Frum, Max Boot — talvez eles fossem assessores, mas não havia cabala neoconservadora.
E quando olhamos Israel, vemos que eles se opuseram à Guerra do Iraque. Achavam que era um desvio dos recursos ocidentais. O verdadeiro inimigo, se fosse para fazer algo — e não aconselhavam isso —, seria o Irã, não o Iraque.
Em conclusão, Israel é uma sociedade constitucional e consensual em um mar de 500 milhões de muçulmanos que vivem sob autocracia. Há 2 milhões de cidadãos árabes dentro de Israel com os mesmos direitos que cidadãos israelenses. Há 180 mil cristãos. Mais cristãos dentro de Israel do que em qualquer lugar na Cisjordânia e provavelmente mais do que em qualquer lugar no mundo árabe. E eles têm plenos direitos.
Todos dizem — essas pessoas no programa de Tucker dizendo “estado judaico, é um estado judaico”. O que acham que são as mais de 50 nações ao redor? São estados islâmicos. Mas a diferença é que são autocráticos e não livres. Israel é uma sociedade liberal. É nosso melhor amigo.
Não teríamos eliminado a ameaça nuclear iraniana ao Ocidente — e, aliás, não foi ideia só de Israel, os europeus estavam aterrorizados, nós também — se a força aérea das Forças de Defesa de Israel não tivesse neutralizado primeiro as defesas aéreas do Irã.
E quando olhamos quem matou americanos — centenas deles —, foi o Hezbollah explodindo os quartéis dos fuzileiros navais em 1983, explodindo a embaixada dos EUA. Os israelenses neutralizaram o Hezbollah, tornaram-no inerte. Atacávamos os houthis independentemente. Israel causou mais dano a eles — o inimigo comum — do que nós.
Portanto, a aliança com Israel não é contra o interesse dos EUA. Está a nosso favor, seja idealisticamente — e deveríamos ser —, apoiando nações livres companheiras com governo constitucional, que tratam cidadãos de forma equitativa e justa e protegem direitos civis, ou estrategicamente, pois temos um pequeno número de aliados muito importantes. Aliados musculosos, fortes, com interesses semelhantes aos nossos, tanto na Europa, Japão, Coreia do Sul. Nesse pequeno número de nações aliadas, Israel é proeminente.
Empiricamente, não há evidência de que na Segunda Guerra Mundial deveríamos ter nos aliado aos alemães ou que fizemos algo errado. Foi um esforço heroico. Derrotamos o fascismo. Derrotamos o militarismo japonês. Derrotamos o nazismo. O Eixo matou mais de 30 milhões de russos, chineses, judeus, europeus orientais, civis, sem contar as vidas militares que tiraram.
Não há necessidade de revisionismo da Segunda Guerra Mundial. Não há necessidade de dizer que as guerras em que estivemos no passado foram provocadas por judeus ou cabalas secretas. Não há necessidade de demonizar judeus convidando Nick Fuentes a um programa sem questionar o que ele diz.
E o que nós, conservadores da direita, fazemos? Acho que devemos falar, conforme nossa posição, sempre que virmos essa recrudescência do antissemitismo e dizer: não se baseia em história, não se baseia em lógica. E alguns dos cidadãos mais valiosos no movimento conservador, assim como nos Estados Unidos em geral, são americanos judeus. Temos muita sorte de tê-los.
O pior que o movimento conservador e os republicanos em particular poderiam fazer seria permitir que esse vírus antissemita. É um vírus. É uma doença. É uma morbidade. Não podemos deixá-lo se espalhar. Já passou da hora de detê-lo.
Victor Davis Hanson, um colaborador sênior do Daily Signal, é um classicista e historiador na Hoover Institution, da Universidade de Stanford.
©2025 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês: Confronting Conservative Antisemitism