Lula participa de cúpula de líderes de esquerda com a União Europeia na Colômbia (Foto: Reprodução do canal gov.br no Youtube)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não visitou as vítimas do tornado que atingiu o interior do Paraná, mas encontrou uma brecha na agenda em Belém, onde se preparava para a COP 30, para viajar à Colômbia. Lula chegou na manhã desse domingo no país vizinho para a cúpula da Celac e União Europeia, para prestar "solidariedade" ao governo do ditador venezuelano, Nicolás Maduro. Ele criticou os Estados Unidos, mas sem mencionar diretamente o presidente Donald Trump.

A cúpula reúne representantes dos 27 países da União Europeia e das 33 nações da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). A presidente da União Europeia, Ursula Von der Leyen não compareceu, assim como o presidente uruguaio Yamandú Orsi, a presidente do México Claudia Sheinbaum e o presidente argentino Javier Milei.

Até Lula reconheceu em seu discurso que o evento estava esvaziado. "Nossas cúpulas se tornaram um ritual vazio, do qual se ausentam os líderes regionais ", disse ele.

Analistas afirmavam que o principal objetivo de Lula de ir à cúpula era defender Maduro. A previsão se confirmou, mas sem que o presidente brasileiro fizesse menção direta ao ditador venezuelano ou a Trump.

Sem se referir ao Brasil, onde aconteceu uma megaoperação policial no Rio de Janeiro no fim do mês passado, que deixou 121 mortos (quatro policiais), o Lula disse ainda que não existe solução mágica para acabar com a criminalidade: “É preciso reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seu financiamento e rastreando e eliminando o tráfico de armas.”

"A ameaça do uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e do Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais. Somos uma região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional", acrescentou Lula.

Os Estados Unidos enviaram ao Mar do Caribe uma esquadra que inclui o maior porta-aviões do mundo e cogita ações militares para combater o narcotráfico. Analistas estimam que a pressão possa levar também à queda de Maduro.

“Só tem sentido a reunião da Celac, neste momento, se a gente for discutir essa questão dos navios de guerra americanos aqui nos mares da América Latina. Tive oportunidade de conversar com o presidente Trump sobre esse assunto, dizendo para ele que a América Latina é uma zona de paz”, disse Lula durante a semana.

Segundo o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, o posicionamento de Lula não atrapalha “de forma alguma” as negociações com o governo Trump para derrubar o tarifaço sobre produtos brasileiros. “Nosso contato com os Estados Unidos diz respeito sobretudo às questões comerciais e tarifárias bilaterais”, afirmou.

O presidente brasileiro preferiu expressar sua “solidariedade” às vítimas de Rio Bonito do Iguaçu, no interior do Paraná, com postagens em redes sociais. O tornado deixou seis mortos e cerca de mil desabrigados. A tragédia destruiu 90% da cidade, segundo autoridades locais. Em seu lugar, Lula enviou a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, ao município.

A viagem à Colômbia é um bate-e-volta com oito horas e 55 minutos de duração de voo. A previsão é que Lula fique apenas três horas e 35 minutos na cidade caribenha de Santa Marta, onde acontece a cúpula, e faça um discurso de cinco minutos, segundo o jornal Folha de S. Paulo.

Lula deve retornar a Belém ainda nesse domingo, a tempo de participar dos eventos que antecedem a abertura oficial da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que começa na segunda-feira (10) e vai até o dia 21 de novembro.

Tom de campanha eleitoral em meio à tragédia

A visita da ministra, simbolizando a ajuda do governo federal, tem sido amplamente anunciada nas redes sociais como ação do “governo do presidente Lula” e do “governo do Brasil”.

As expressões seguem a linha do slogan anunciado em agosto pela equipe de comunicação de Lula: “governo do Brasil – do povo brasileiro”.

A nova marca foi lançada pelo ministro Sidônio Palmeira, titular da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), em agosto, substituindo “União e Reconstrução”, adotada no começo da terceira gestão do presidente.

Lula expressou seu “profundo sentimento a todas as famílias que perderam seus entes queridos” pelas redes sociais.

O governo federal intensificou a aposta digital desde o início do ano. De janeiro a outubro, já foram gastos R$ 69 milhões em publicidade online, segundo dados da Secom – um aumento de 110% em relação ao mesmo período de 2024.

Além das campanhas institucionais, a Secom tem contratado influenciadores digitais para ampliar o alcance das mensagens oficiais e atingir segmentos que não consomem mídia tradicional.

EUA acusam Maduro de liderar cartel

O encontro na Colômbia deve discutir negociações comerciais, como a volta do livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, mas o destaque será a escalada nas tensões entre os Estados Unidos e Venezuela.

O governo Trump tem intensificado a presença militar no mar do Caribe. De acordo com os EUA, Maduro seria líder do Cartel de los Soles, organização classificada como terrorista.

Até o momento, a operação destruiu barcos que transportariam drogas no Mar do Caribe, matando mais de 60 pessoas. Trump não descarta ações militares terrestres na Venezuela, para combater o que chama de "Al-Qaeda do Hemisfério Ocidental".

Na quinta-feira, o assessor especial da Presidência Celso Amorim disse que o Brasil precisa "defender a América do Sul".

“Somos uma zona de paz, não precisamos de guerra aqui. O problema que existe na Venezuela é um problema político que deve ser resolvido na política”, disse Lula. O ditador da Venezuela agradeceu ao petista pela declaração.

A Colômbia ocupa a presidência da reunião da Celac em 2025, sucedendo Honduras. Em 2026, é a vez do Uruguai. Segundo a Agência Brasil, o Brasil retomou sua participação na cúpula em janeiro de 2023, após três anos de ausência.

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