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As eleições de 2022 foram decididas por uma margem mínima de votos. Nesse cenário, é inegável que os liberais brasileiros tiveram papel decisivo na vitória de Lula. Assim, qualquer estratégia da direita para 2026 precisa compreender como reverter esse apoio e convencer os liberais de que a alternativa conservadora é a melhor opção para o país.
Para isso, é essencial entender que o grupo liberal está longe de ser homogêneo. Economistas, por exemplo, tendem a ser liberais na economia e, não raro, estendem seu arcabouço técnico para o campo moral e político. Costumam enxergar o mundo sob a ótica da maximização de lucro ou de utilidade — e, por esse prisma, restrições impostas por visões conservadoras dificilmente penetram em seu horizonte intelectual. Assim, acabam frequentemente apoiando candidatos progressistas que, embora defendam políticas econômicas ruins, promovem maior liberalização nos costumes.
Esse comportamento não é novidade. Na Revolução Russa, os liberais preferiram se aliar aos bolcheviques — o segmento mais radical da esquerda — contra os conservadores que pediam moderação. O mesmo padrão se repetiu em outras revoluções, como a Francesa: liberais sempre se aproximaram mais dos radicais de esquerda do que dos conservadores. As causas disso são complexas e merecem um estudo próprio. O fato concreto, porém, é simples: os liberais apoiaram Lula em 2022 e, salvo surpresa, apoiarão novamente em 2026.
Alguém pode objetar dizendo que os liberais votaram em Bolsonaro contra Haddad em 2018. Infelizmente, essa leitura está equivocada. Naquele pleito, a maioria dos liberais brasileiros apoiou Haddad ou buscou refúgio em uma “terceira via” — e, curiosamente, muitos apontaram Ciro Gomes como o candidato mais moderado. Falo com conhecimento de causa: em 2018, eu integrava um grupo que reunia boa parte da elite dos economistas brasileiros, e ali eu estava entre a minoria que defendia abertamente Jair Bolsonaro.
Costumam enxergar o mundo sob a ótica da maximização de lucro ou de utilidade — e, por esse prisma, restrições impostas por visões conservadoras dificilmente penetram em seu horizonte intelectual
Se a direita pretende voltar ao poder em 2026, é preciso aceitar um fato simples: a maioria dos liberais não estará conosco. O caminho da vitória está em reafirmar nossa base conservadora — com uma postura firme no combate ao crime organizado, na defesa da vida, da propriedade e da liberdade. A isso deve somar-se um discurso econômico liberal: responsabilidade fiscal, limitação do tamanho do Estado, redução de impostos e burocracia, e reformas que ampliem o poder de escolha das famílias e aumentem a produtividade do país. Essa é a combinação que pode garantir uma base sólida e consistente de apoio.
E, se ainda restarem dúvidas sobre o comportamento liberal, deixo uma reflexão. Em 2022, muitos de meus colegas economistas diziam que não votariam em Bolsonaro porque ele “não privatizou tudo” e “não respeitou integralmente o teto de gastos”. Eu lhes respondia:
— Deixa eu ver se entendi: você não irá votar em Bolsonaro porque ele não privatizou tudo e nem conseguiu manter o teto de gastos em 100% do tempo, mas irá votar em um candidato que promete não privatizar nada e que irá acabar com o teto de gastos. É isso mesmo?
Diante dessa pergunta, o silêncio era a resposta — e, no fim, votaram e fizeram campanha por Lula. O motivo formal variou: em 2022, foi “pela democracia”; em 2026, talvez seja “pela soberania”. Pouco importa o rótulo. O fato é que eles voltarão a votar em Lula.
Para vencer, a direita deve mirar onde há terreno fértil: defender o conservadorismo britânico, que une valores judaico-cristãos na esfera moral e liberdade de mercado na econômica. Fora disso, é perda de tempo — e de apoio.
