O socialista Zohran Mamdani venceu as eleições para a prefeitura de Nova York, abrindo caminho para a chegada de uma ala mais radical dos democratas no poder (Foto: SARAH YENESEL/EFE/EPA)

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“Foi para gozarmos desta liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei firmes e não vos deixeis prender de novo ao jugo da escravidão.”
(Gálatas 5, 1)

Vi a Estátua da Liberdade caída, semi-enterrada numa praia escura. Não era filme: era uma terça-feira tão ensolarada quanto a manhã do 11 de Setembro. O mar vinha e voltava como se nada tivesse acontecido. Mas ali estava ela, com o braço estendido ainda segurando a tocha. Um símbolo que virou um escombro.

Pensei no coronel George Taylor, gritando diante daquela visão no final de O Planeta dos Macacos:

— Seus maníacos! Vocês destruíram tudo!

Ele falava da bomba. Eu falava da eleição.

Nova York não foi destruída por mísseis, nem por tanques, nem por invasores. Ela foi destruída por si mesma, corroída por dentro com votos, hashtags, ONGs, slogans e cirurgias gratuitas de mudança de sexo.

O braço da estátua ainda segurava a tocha, mas não havia mais fogo.

Então eu pensei em como esse desastre começou. Lembram-se dele? Jovem, nascido no exterior, filho de marxista e feminista, socialista radical, muçulmano praticante, rapper frustrado, deputado lacrador, prefeito eleito.

Na manhã seguinte à vitória, saiu às ruas com um keffiyeh no pescoço e uma citação do Alcorão nos lábios. À tarde, apareceu na parada gay do Queens. À noite, jantou com bilionários em Manhattan (os mesmos bilionários que, segundo ele, não deveriam existir). No dia seguinte, propôs a criação de mercados estatais para substituir os supermercados privados. No outro, anunciou verbas públicas para cirurgias de redesignação sexual em menores de idade.

Ninguém entendeu nada. Ou melhor: todos fingiram entender.

Foi assim que ele chegou. Não precisou romper os muros de Troia, como fez Ulisses — foi carregado pelos próprios moradores até a prefeitura. Sorriam enquanto apertavam a mão que escreveria sua sentença.

O novo prefeito não prometia liberdade. Prometia justiça social. Prometia reparação histórica. Prometia igualdade total — custasse o que custasse.

E custou. Custou a cidade.

Nova York caiu, mas a Igreja permanece

Aos poucos, Nova York foi deixando de ser cidade para virar soviete. A polícia virou inimiga. O criminoso, vítima. O lucro, opressão. A fé, discurso de ódio. O comércio livre, um privilégio branco.

Nos primeiros meses, os mercados públicos pareciam uma boa ideia — sacolas ecológicas, frases anticapitalistas e legumes com selo de diversidade. Depois, começaram os desabastecimentos, os racionamentos e as filas soviéticas.

Os bairros ricos foram taxados até o osso. Muitos deixaram a cidade.
Outros ficaram e ajoelharam — por medo, por vergonha ou por vaidade.

O prefeito criou um “Departamento de Justiça Climática e Alimentar” para punir açougues, padarias e igrejas que “discriminassem”. Discriminar, naquele tempo, era qualquer coisa que lembrasse a tradição cristã. O Natal foi suspenso para não ofender os fiéis de outras religiões. A Páscoa virou “Celebração da Fertilidade Plural”. No Ramadã, feriado com dinheiro público e tapetes no Central Park.

Os pais perderam o direito de saber o que seus filhos aprendiam na escola — ou no que se transformavam. Meninas voltavam para casa com barba. Meninos pediam hormônio como quem pede refrigerante. E a cada nova medida, a cidade aplaudia. Não todos, mas os que falavam em nome de todos. Aos outros, restava o silêncio. E foi assim que a Grande Cidade, vestida de causas, amarrou no pescoço o próprio lenço — e puxou.

Nada daquilo era novo. Estava tudo escrito, tudo ensaiado, tudo previsto nos planos e projetos de dominação global. O socialista radical era apenas o nome visível da engrenagem. Por trás dele, os blocos giravam: o globalismo com seus bilionários maquiavélicos, o eurasianismo com suas revoluções assassinas, o islamismo com sua guerra “santa” sem fim. Três cabeças, um só corpo: o novo prefeito de Nova York anunciava a tirania de Cérbero, o cão que guarda a porta do inferno. E o Ocidente, o que fez? Escancarou-lhe os portões.

Culpada por existir, desejando ser punida, a metrópole deixou-se devorar em nome da inclusão. A cauda de Cérbero tinha a forma de uma serpente, e de sua língua bífida saíam as mentiras de igualdade, as mentiras de justiça social, as mentiras de gênero, número e grau. Mentiras cantadas em rap, postadas em rede, ensinadas em sala de aula.

E quem ousasse dizer a verdade — que aquilo era uma aliança contra o Cristianismo, uma guerra travada com slogans e ideologias — esse era calado, ridicularizado e cancelado. Não era mais necessário perseguir com armas, bastava rir e acusar.

A civilização ocidental não foi vencida pela força. Foi convencida de que merecia morrer.

Mas mesmo ali, diante da Estátua caída, havia algo que não caíra. O braço da liberdade segurava a tocha. Nessa tocha não havia mais fogo, contudo restava a forma. E a forma guarda uma promessa, como a música que deixou de ser tocada, mas sobrevive em forma de partitura; como o poema que foi censurado, mas persiste na memória da leitora.

Lembrei-me do que dizia um velho padre em uma capela escondida do Bronx, antes de ser fechada por “inclusão inter-religiosa”:

— Enquanto houver uma alma que diga o Nome, a cidade ainda vive.

Esse Nome — que não se dobra, não se renega, não se entrega — ainda era ouvido em lugares onde o progresso não entrava: num confessionário, num quarto de hospital, uma mesa de jantar iluminada por uma vela, numa missa clandestina. Ali, onde não há hashtags, o Nome ainda era dito. Talvez não por muitos, talvez apenas por uma dúzia — porém, esses doze tornar-se-ão mais numerosos que o mundo.

Nova York caiu, mas a Igreja permanece. Porque a Igreja não é feita de prefeituras, e sim da Presença Real. A liberdade, quando tudo mais falha, é justamente isso: poder ainda dizer e santificar o Nome acima de todos os nomes.

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