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Os últimos três anos foram de descanso para o ex-governador do Paraná e ex-senador Alvaro Dias. Após perder nas eleições de 2022 a cadeira que foi dele no Senado por três mandatos consecutivos, manteve sua vida pública apenas nos bastidores do Podemos, partido que ajudou a construir, pelo qual foi candidato a presidente em 2018 e que deixou, decepcionado, no fim de outubro. Com o pleito do ano que vem se aproximando, Alvaro Dias planeja o retorno aos holofotes e a Brasília.
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O tempo é curto e ele precisa encontrar rapidamente um partido que conceda palanque e protagonismo. Recebeu propostas e está analisando cada uma delas. Ele tem o MDB como favorito, a sigla pela qual começou sua carreira política em 1968, como vereador em Londrina (PR), e ficou por mais de 20 anos — passou por PST, PP, PSDB, PDT, PV e Podemos depois disso.
“Seria a volta para a casa”, reconheceu Alvaro Dias à Gazeta do Povo. “Eu tenho uma história no MDB, é o partido que eu mais militei. As minhas maiores vitórias foram no MDB. Os momentos mais fascinantes da minha trajetória foram vividos no MDB”, relembrou. Pelo partido foi vereador, deputado estadual, governador, deputado federal e senador.
Nos últimos dias, ele tem conversado com lideranças da sigla, incluindo o presidente nacional Baleia Rossi e o presidente estadual Sergio Souza. O convite foi feito e depende de Alvaro Dias acertar com o partido que ele considera como um dos únicos no país "realmente históricos e democráticos", com eleições internas para definir as lideranças — ele também coloca PSDB e PT nesse pacote.
Situação diferente da qual vinha encontrando no Podemos, com disputas internas. Um partido que virou, segundo ele, um partido com proprietário e franquias estaduais. “A saída do Podemos é resultado do meu inconformismo em relação ao sistema vigente no país, não é exclusividade do Podemos. A frustração é porque eu imaginava o Podemos como uma alternativa”, revela.
Poucos dias após Alvaro Dias deixar o Podemos, o deputado federal Felipe Francischini, que perdeu o comando do União Brasil no Paraná para o senador Sergio Moro, assumiu o controle da legenda no estado. Por ainda estar no União Brasil, indicou a mãe dele, Luciane Bonatto, para o cargo de presidente estadual. Em abril do ano que vem, quando puder mudar de partido, assumirá o comando oficial do Podemos do Paraná.
Primeiro Moro, depois Graeml: Alvaro Dias dispensa ressentimentos
Nos quase oito anos em que esteve no Podemos, Alvaro Dias foi responsável por atrair novos nomes da política local. O mais notável foi Sergio Moro. O ex-juiz da Lava Jato ingressou no partido em 2021 com a ambição de se tornar presidente no ano seguinte. Em poucos meses, porém, ele migrou para o União Brasil para entrar na disputa pelo Senado exatamente contra seu padrinho no Podemos.
Na eleição de 2022, com uma cadeira apenas em jogo, Moro foi eleito senador com 33,5% dos votos, interrompendo uma sequência de três mandatos de Alvaro Dias, que ficou em terceiro naquele pleito — em segundo ficou Paulo Martins, hoje vice-prefeito de Curitiba.
Em 2026, esse cenário pode acabar se repetindo. Após uma campanha surpreendente à prefeitura de Curitiba no ano passado, a jornalista Cristina Graeml é uma das possíveis candidatas às duas vagas no Senado pelo Paraná. Ela, que levou a disputa da gestão da capital contra Eduardo Pimentel (PSD) para o segundo turno, em um partido nanico, o PMB, se filiou ao Podemos sem fevereiro deste ano.
Graeml, porém, saltou em setembro para o União Brasil comandado por Moro. Ao ver a mesma história se repetir, Alvaro Dias poderia demonstrar rancor ou algo do tipo. Abertamente, não fala sobre ressentimento com Moro e Graeml.
“Não há lugar para ressentimento na minha alma. Porque se houvesse, eu seria muito infeliz”, declara. “A política é isso mesmo, é esse cenário de incompreensões, de injustiças, de traição, de ingratidão. Como diziam, o dia do benefício é a véspera da ingratidão”, comenta.
“Com todo vigor”, ex-senador deslancha nas pesquisas
Ainda sem partido, Alvaro Dias não decidiu se tentará o Senado em 2026, apesar de ser o caminho mais lógico, especialmente porque duas cadeiras estão em jogo por cada estado. E sem contar que mesmo afastado dos holofotes da política ele conseguiu manter o capital político amealhado por décadas.
As pesquisas o apontam como um dos nomes mais competitivos para o ano que vem. Um levantamento da Futura/Apex, divulgado em outubro, mostra Alvaro Dias como o segundo mais citado no cenário que tem Ratinho Junior (PSD) e como o mais lembrado quando o governador não aparece:
Pesquisa ao Senado pelo Paraná com Ratinho Junior
- Ratinho Junior (PSD): 66,6%
- Alvaro Dias (sem partido): 28,7%
- Deltan Dallagnol (Novo): 16%
- Gleisi Hoffmann (PT): 15,1%
- Osmar Dias (sem partido): 11,7%
- Flávio Arns (PSB): 9,5%
- Filipe Barros (PL): 8,4%
- Cristina Graeml (União Brasil): 6,5%
- Zeca Dirceu (PT): 6,0%
- Jeffrey Chiquini (Novo): 3,7%
- Não sabe/Não respondeu/Indeciso: 13,5%
- Ninguém/Branco/Nulo: 14,2%
Cenário ao Senado sem Ratinho Junior
- Alvaro Dias (sem partido): 44,1%
- Osmar Dias (sem partido): 22,8%
- Deltan Dallagnol (Novo): 21%
- Gleisi Hoffmann (PT): 18,7%
- Flávio Arns (PSB): 14,1%
- Filipe Barros (PL): 12,8%
- Cristina Graeml (União Brasil): 10,7%
- Zeca Dirceu (PT): 8,3%
- Jeffrey Chiquini (Novo): 4,7%
- Não sabe/Não respondeu/Indeciso: 16,4%
- Ninguém/Branco/Nulo: 26,4%
Esses cenários mexem com o ex-governador, que fala em “reconhecimento” da população paranaense. Ao mesmo tempo em que gostaria de passar mais tempo com a família, a pedidos, inclusive, dos próprios familiares, Alvaro Dias entende que a carreira política dele ainda não acabou e que há espaço para mais.
Prestes a completar 81 anos, não lhe falta vigor, segundo avaliação dele mesmo. “Assumi uma responsabilidade, quer dizer, percorri uma trajetória longeva e continuo com todo vigor e às vezes eu me sinto responsável e me pergunto se eu tenho o direito de me ausentar do processo. Será que não seria uma fuga?”, questiona-se.
- Metodologia da pesquisa citada: 800 entrevistados pela Futura/Apex entre os dias 8 e 10 de outubro de 2025. Nível de confiança: 95%. Margem de erro: 3,5 pontos percentuais.
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