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A mais tradicional celebração religiosa do Paraná está de volta com força total. A Festa do Rocio 2025, dedicada à Padroeira do Estado, estima reunir mais de 500 mil fiéis e turistas em Paranaguá até o próximo domingo (16), movimentando a cidade histórica com romarias, missas, procissões e eventos culturais.
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O ponto alto da programação acontece neste fim de semana, quando são esperadas até 160 mil pessoas na missa campal e na procissão solene em honra a Nossa Senhora do Rocio. Segundo o Santuário Estadual de Nossa Senhora do Rocio, apenas na procissão de ida para a Catedral Diocesana, que ocorre no sábado (15), são esperados 100 mil devotos e mais de 100 ônibus de romeiros.
“O Santuário do Rocio se prepara durante todo o ano para acolher da melhor forma todos os devotos e romeiros. Temos o apoio de movimentos e pastorais, além de reforço na segurança pública no entorno da igreja, tudo voltado ao atendimento de cada um que chega aqui”, afirma o padre Dirson Gonçalves, reitor do Santuário do Rocio.
Neste ano, o tema da festa “Com a Mãe do Rocio aos pés da Cruz” convida os fiéis à reflexão sobre a fé em meio às dores e desafios da vida. “Assim como Maria permaneceu firme diante da morte de seu filho, o tema nos inspira a não desistir nas dificuldades”, completa o reitor.
Fé e economia se unem durante a Festa do Rocio
Além do impacto espiritual, a Festa do Rocio é um dos maiores impulsionadores econômicos do litoral paranaense. Segundo o secretário de Cultura e Turismo de Paranaguá, José Reis de Freitas Neto, o evento movimenta intensamente a rede hoteleira, os restaurantes e o comércio local.
“A rede hoteleira de Paranaguá opera com ocupação próxima à totalidade, impulsionada por peregrinos vindos de diversas regiões do Brasil. Esse movimento também aquece os setores de transporte, alimentação e serviços turísticos. O comércio local registra incremento expressivo nas vendas, especialmente nas feiras que integram o circuito da festa”, afirma o secretário.

Entre as ações da prefeitura de Paranaguá para propiciar conforto e segurança ao público estão o reforço da limpeza urbana, a instalação de banheiros químicos, o ordenamento do trânsito e o apoio conjunto entre Guarda Civil Municipal, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Defesa Civil. “Queremos que os fiéis se sintam acolhidos e vivam essa experiência com tranquilidade e fé”, diz Freitas Neto.
Além disso, a cidade tem investido em turismo religioso, com melhorias na sinalização turística, acessibilidade e revitalização de espaços públicos. “O objetivo é consolidar Paranaguá como destino de referência nacional em turismo religioso, fortalecendo o desenvolvimento sustentável e mantendo o fluxo de visitantes durante todo o ano”, acrescenta o secretário municipal.
Devoção e patrimônio cultural
A Festa do Rocio é uma das manifestações religiosas mais antigas do país e carrega uma história que se confunde com a própria formação do Paraná. A devoção a Nossa Senhora do Rocio surgiu no século XVII, quando os moradores de Paranaguá, assolados por uma epidemia, recorreram à intercessão da Mãe de Jesus.
Segundo a tradição, a imagem da santa foi encontrada por um pescador conhecido como Pai Berê, nas redes lançadas à baía da cidade. O termo “Rocio” vem do português arcaico e significa “orvalho matutino” — símbolo de pureza, bênção e renascimento.
A primeira capela dedicada à santa foi construída em 1813, e o atual santuário, em 1920. Em 1977, o papa Paulo VI declarou oficialmente Nossa Senhora do Rocio como Padroeira do Paraná, título que será celebrado em 2027 com o Jubileu de Ouro, marcando 50 anos do patronato sobre o estado.
A Festa do Rocio é uma das manifestações religiosas mais antigas do país.
Desde 2023, os temas da festa seguem os Mistérios do Rosário: Gozosos (2023), Luminosos (2024), Dolorosos (2025) e Gloriosos (2026), preparando os fiéis para o Jubileu. “É um tempo de aprofundar a fé e agradecer a proteção de Nossa Senhora sobre o povo paranaense”, destaca o padre Dirson.

O reconhecimento da festa vai além da religiosidade. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) analisa o registro da celebração como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil — processo iniciado em 2013 a pedido da Associação Pró-Obras Sociais do Santuário do Rocio.
A pertinência do pedido foi aprovada em 2019, e, desde então, o Iphan, em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), realiza estudos técnicos e documentais sobre o valor histórico e simbólico da devoção. “Esse reconhecimento é uma forma de eternizar a Festa do Rocio como parte do patrimônio cultural e espiritual do povo brasileiro”, afirma o santuário.
Festa do Rocio atravessa gerações
Para os moradores da cidade, participar da Festa do Rocio é mais do que tradição: é um ato de fé e identidade. A médica veterinária Marcele Brites, que tem uma clínica na Ilha dos Valadares, conta que frequenta a celebração desde a infância.
“Meus pais sempre foram muito católicos e participamos das novenas. Hoje, com meus filhos, seguimos juntos, mantendo essa devoção que passa de geração em geração”, relata. A devota também compartilha uma graça recebida durante a festa do ano passado.
“No início do novenário, pedi à Mãe do Rocio que me mostrasse se era o momento certo de abrir minha clínica veterinária. No final da procissão luminosa, senti no coração que era. Hoje, estamos com quase 10 meses de clínica em honra e glória à Senhora do Rocio”, testemunha.
A tradição familiar é outro aspecto que mantém viva a devoção. “Na procissão dos carros, montamos um altar em frente à oficina da nossa família, fazemos um buzinaço e homenageamos Nossa Senhora. No dia da festa, vamos todos à missa campal e nos encontramos durante a procissão. A fé nos une e nos move”, diz Marcele.
A festa se renova a cada ano, incorporando novas expressões de fé e cultura popular, como a Cavalgada da Fé, o Passeio Pet e a Corrida e Caminhada com a Mãe do Rocio. Todas essas atividades reforçam a dimensão comunitária do evento, que mistura religiosidade, cultura e convivência.
Com o letreiro turístico “Eu Amo Nossa Senhora do Rocio” instalado nas proximidades do santuário e uma programação que combina espiritualidade e celebração, a cidade de Paranaguá se transforma, mais uma vez, em um ponto de encontro de fé e esperança.
“Representa que ainda existe fé no nosso povo e que Nossa Senhora ainda está presente em nossas vidas todos os dias”, resume Marcele Brites — em palavras que refletem o sentimento de milhares de devotos que, ano após ano, fazem da Festa do Rocio uma das maiores expressões religiosas e culturais do Brasil.
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