Gonet Moraes
Alexandre de Moraes e Paulo Gonet: sintomas do mesmo problema. (Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil)

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No programa Última Análise desta quarta-feira (12), os comentaristas analisaram a dupla situação vivida ontem pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, e pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. O procurador foi alvo de duras críticas em sua sabatina no Senado Federal, sendo acusado pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) de "envergonhar" o Ministério Público Federal (MPF). Já Moraes, em julgamento da Ação Penal 2696, que analisa a atuação dos "kids pretos" na suposta trama golpista, foi confrontado pelo advogado Jeffrey Chiquini, defensor do tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo, que expôs uma falha no julgamento.

"No estado atual de coisas no Brasil, não há instituição que não tenha sido deteriorada por completo, ou apequenada, por praticamente todos os seus ocupantes, seja Gonet ou Moraes", analisou o escritor Francisco Escorsim. Para ele, Gonet, durante seu mandato, não se comportou como um procurador, mas simplesmente como um "carimbador" de todas as decisões de Moraes.

Na sabatina, Flávio Bolsonaro citou o caso do ex-assessor de Moraes, Eduardo Tagliaferro e criticou Gonet por denunciá-lo. Tagliaferro passou a ser investigado pelo ministro por denunciar supostas irregularidades e perseguições políticas, em inquéritos presididos pelo próprio Moraes.

O ex-procurador Deltan Dallagnol diz que o caso de Tagliaferro é uma "fratura exposta" na atuação de Moraes. "O ministro se coloca como vítima e está processando seu algoz, quando na verdade Tagliaferro é um denunciante de um crime. É uma injustiça tremenda", ele critica.

Em julgamento da Ação Penal 2696, Chiquini foi questionado por Moraes. O ministro cobrou uma foto do réu, após o defensor dizer que ele estava fora de Brasília em operação que planejava o sequestro do ministro. O advogado, por sua vez, afirmou que a fotos foram tiradas de um celular apreendido pela Polícia Federal.

"Se um celular está sendo debatido, é preciso que ele tenha sido compartilhado entre acusação e defesa. Caso contrário, a defesa está dizendo uma coisa e a acusação, outra. Não tem contraditório, pois cada um está analisando objetos diferentes", ressaltou o jurista André Marsiglia.

Dino ameaça advogado

Após o confronto entre Moraes e Chiquini, o ministro Flávio Dino, presidente da Primeira Turma do STF, interveio e se dirigiu aos advogados. Dino invocou seu "poder de polícia", exigindo que os profissionais da tribuna mantivessem "urbanidade, lhaneza e serenidade" e "lealdade em relação ao tribunal".

Dallagnol criticou a postura de Dino e disse que ela é inadequada para um ministro. "Fica parecendo que o ministro quis coibir uma crítica. O Chiquini mostrou apenas os furos da investigação e as violações. Dino não especificou o que estava errado na fala", ele diz.

"Será que a OAB vai se manifestar, defendendo a prerrogativa dos advogados diante dessa ameaça do ministro? Vai se manifestar, sem dúvida. Mas para defender o ministro Dino", ironizou Marsiglia.

O programa Última Análise faz parte do conteúdo jornalístico ao vivo da Gazeta do Povo, no YouTube. O horário de exibição é das 19h às 20h30, de segunda a sexta-feira. A proposta é discutir de forma racional, aprofundada e respeitosa alguns dos temas desafiadores para os rumos do país.