debate esquerda
Nos "debates" de hoje só podem participar os que pensam da mesma forma. (Foto: Imagem criada utilizando Whisk/Gazeta do Povo)

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Começou na época da Covid, com o tal “consórcio de imprensa”. Os jornalistas desistiram de seu ofício e assinaram ali sua própria “certidão de óbito”. Todos aceitaram empurrar ao precipício os princípios fundamentais de sua profissão – o apego aos fatos, o compromisso com a busca da verdade, com a apuração profunda das informações, com a isenção e o equilíbrio. Depois, eles próprios se atiraram às profundezas... A imprensa se matou, desistiu de ser imprensa, abrindo mão de ouvir todos os lados das histórias reais, abolindo, submissa a tiranos, o debate.

Na semana passada, um “panfleto” foi destaque na primeira página de O Estado de S.Paulo e ocupou duas páginas inteiras do jornal. Três médicos consagrados, com larga experiência, foram tratados como charlatães. O Estadão afirmou que eles estariam inventando uma “síndrome pós-picadinha”, apenas para vender cursos e tratamentos. O panfleto do jornal, ele, sim, anticiência, fez questão de ignorar cerca de 14 mil artigos científicos sobre o que tem sido material de estudo do imunologista Roberto Zeballos, do infectologista Francisco Cardoso e do neurologista Paulo Porto de Melo.

É muita cara de pau reunir 33 pessoas que pensam da mesma forma e afirmar que houve “debate”, “apuração” e que se chegou a um “consenso”

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, comemorou a publicação da matéria e anunciou que o governo vai processar os médicos citados pelo Estadão, usando a AGU. Juntam-se, mais uma vez, o governo do PT e a imprensa que se matou, para atacar as bases da ciência e também do jornalismo: o mundo real; as teses e as antíteses; os pontos e os contrapontos; os argumentos e os contra-argumentos... Não pode haver mais liberdade médica, nem liberdade de imprensa, nem liberdade de expressão... Um regime tirânico se acha no direito de decidir o que é “verdade”, de transformar qualquer divergência em crime, de ameaçar e chamar de “negacionista” quem questiona a narrativa oficial.

Despedaçada, moribunda, vagando como um zumbi, a imprensa aceita de bom grado ser submissa. E passa a perseguir o dissenso e amordaçar quem considera indesejável, quem escolhe como inimigos. Também tem sido assim em relação ao sistema eletrônico de votação no Brasil, assunto terminantemente proibido. Também tem sido assim quando a pauta é meio ambiente. Deve-se aceitar que, por culpa do ser humano, o vilão dos vilões, o clima na Terra está mudando. Deve-se anunciar, potencializando sempre o discurso alarmante e as frases de efeito, que, se nada for feito, o planeta vai acabar depois de amanhã.

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Na última quinta-feira, véspera do último dia da inútil e desastrosa COP 30 em Belém, era manchete do G1: “Tempo se esgotando: as prioridades e os piores cenários climáticos para o planeta”. O texto dizia o seguinte: “Reunimos 33 dos principais pesquisadores de referência mundial, ambientalistas e personalidades com voz ativa no debate climático para responder a uma pergunta central: qual é o futuro do planeta? As respostas, reunidas ao longo de meses de apuração, revelam um consenso e um alerta: o tempo está se esgotando”.

É muita cara de pau reunir 33 pessoas que pensam da mesma forma – entre elas, uma chef de cozinha, um DJ, uma empresária petista e um “cacique de boutique” – e afirmar que houve “debate”, “apuração” e que se chegou a um “consenso”... Por que o portal da Globo não ouviu cientistas como os brasileiros Ricardo Felício e Luiz Carlos Molion, ou a climatologista americana Judith Curry, ou o ativista canadense Patrick Moore, um dos fundadores do Greenpeace? Porque mentir dá um trabalho enorme, e os mentirosos não querem dar a ninguém a chance de desmascará-los.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos