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É isso mesmo, caríssimo leitor: hoje vamos provar que as feministas dizem a verdade e os conservadores também. E aqui está a razão pela qual ninguém está convencendo ninguém nesses debates. Os dois lados estão dizendo a verdade, e a única chance de mudar esta situação seria adotarmos uma solução bíblica, costumeiramente utilizada nos Estados Unidos.
Quem teve a oportunidade de acompanhar a sessão da Câmara dos Deputados no último dia 5, sobre o PDL 03/2025, assistiu a discussões acaloradas acerca da famosa Resolução do Conanda que, entre outras coisas, estipula que crianças podem abortar sem o consentimento dos pais e em qualquer idade gestacional.
De um lado, vimos parlamentares da bancada conservadora fundamentando seus votos na inviolabilidade do direito à vida, na importância de se respeitar a autoridade dos pais e na proteção das crianças, que não podem carregar o peso de uma decisão tão dolorosa quanto a de abortar um filho.
Do outro lado, valendo-se de curtas frases de efeito, como “criança não é mãe” e “estuprador não é pai”, a ala progressista defendia com unhas e dentes a Resolução, baseando-se no “direito” ao aborto, na “proteção” da menor e no direito à saúde, entre outros argumentos.
Mas não é só no Parlamento. Quem tem algum conhecido que defende essas causas progressistas ou mesmo quem tem um filho adolescente que está enveredando por esse caminho sabe o quanto é difícil conversar e debater com eles sobre esses assuntos. Eles são irredutíveis em suas opiniões, e a razão disso é que, na cabeça dessas pessoas, elas estão seguindo a verdade — e nós, desse lado de cá, sabemos que também estamos.
Pode parecer loucura, mas o grande problema é esse: embora sejam opiniões totalmente incompatíveis, ambos os lados estão seguindo uma verdade. Isso ocorre porque o próprio conceito de verdade muda entre os conservadores e os chamados “progressistas”.
Geralmente, para o conservador, a verdade é uma adequação do pensamento ao objeto, algo absoluto e imutável. Uma cadeira é uma cadeira, e ponto final. Faltar com a verdade ou ser incoerente é errado, e um aborto, invariavelmente, é matar uma vida inocente. Um debate entre pessoas que pensam dessa forma é pautado pela busca de uma verdade objetiva, obtida por meio da ponderação das premissas lógicas que antecedem uma conclusão.
Já para as feministas, a verdade está condicionada a uma espécie de processo de adequação prática entre o sujeito e o objeto — o que, trocando em miúdos, significa que a verdade feminista varia com o tempo e com a necessidade do movimento. Se algo serve ao propósito do feminismo, consideram verdade; se não, é mentira. De acordo com o contexto, as conclusões se diversificam, tudo em busca da finalidade última do movimento.
Um exemplo claro dessa fluidez da verdade feminista pode ser notado no fato de que, até bem pouco tempo atrás, para tentar suavizar o verdadeiro sentido do assassinato intrauterino, o movimento passou a denominar o aborto de “interrupção voluntária da gravidez”.
Hoje, entretanto, como o intuito passou a ser o de causar a morte de crianças com mais de 22 semanas, já não lhes interessa essa expressão, pois a antecipação do parto dessas crianças periviáveis também é uma espécie de interrupção voluntária da gestação. Assim, como a intenção agora é matar o bebê, referir-se ao aborto como “interrupção da gravidez” não tem mais utilidade para o movimento e, portanto, não é mais uma verdade a ser sustentada. Por isso, de uns tempos pra cá, elas passaram a se referir diretamente ao “aborto”.
Sabemos que, para nós, é difícil aceitar isso, mas é assim que o raciocínio progressista funciona. Não adianta discutirmos: expomos os argumentos de nossa verdade, e eles se defendem com os deles. Desse modo, acreditamos que, por meio do debate, é muito difícil chegar a um consenso, pois a discussão não está baseada nos mesmos fundamentos. Os atores e as ideias não estão no mesmo palco.
A solução, entretanto, é antiga e está descrita nos Evangelhos. Diante de um impasse desse porte, em que aparentemente estamos diante de duas verdades, basta olharmos seus resultados para constatarmos o caminho correto: “Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má, bons frutos” (Mt 7,18).
Está duvidando da verdade sustentada pelos conservadores? Olhe as crianças salvas do aborto: veja a beleza de seus sorrisos, a alegria de suas mães e das famílias em que vivem e a felicidade que ali reina.
Está acreditando na verdade sustentada pelos abortistas? Assista a imagens de um abortamento — as crianças retiradas aos pedaços ou completamente carbonizadas pela assistolia fetal
Só assim poderemos convencer essas pessoas do quanto o aborto é abominável. Aliás, essa técnica já vem sendo utilizada há algum tempo na Marcha pela Vida, em Washington, D.C. Durante o evento, imagens de abortos reais são exibidas em vários telões, e os incontáveis argumentos abortistas, ou seus chavões repetitivos, imediatamente se silenciam.
A realidade do ver se impõe sobre o querer.
