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Sexta-feira, 26 de dezembro de 2025, e o ano definitivamente ainda não acabou. Marcada para a próxima terça-feira, 30 de dezembro, a acareação determinada de ofício pelo ministro do STF Dias Toffoli entre o dono do banco Master, Daniel Vorcaro, um diretor do Banco Central, Ailton de Aquino, e o ex-presidente do Banco de Brasília (BRB) continuará sendo motivo de notícias na última semana do ano. E será por motivos nada republicanos.
A corrupção e fraude do banco Master são daquelas tão grandes que, por atingirem potencialmente tanta gente poderosa, pode derrubar a república. Ou, melhor: já dão motivos suficientes para duvidarmos que, de fato, vivamos em uma república. O contrato de quase R$ 130 milhões firmado entre o escritório de advocacia da esposa do ministro Alexandre de Moraes, Viviane Barci de Moraes, e a instituição financeira fraudulenta, é peça principal deste enredo, revelado pela imprensa também nesses últimos dias do ano: o marido poderoso da contratada teria pressionado o representante máximo da autoridade monetária nacional, o presidente do Banco Central Gabriel Galípolo, para que autorizasse o negócio entre o contratante Master e o banco estatal BRB.
A perseguição política que tantos aplaudiram como justificável para os excessos da Corte é na verdade para parte relevante da elite no poder apenas um subterfúgio para um objetivo muito maior: a ação nas sombras e sem nenhum tipo de controle sobre as suas próprias atividades ilícitas
As notas de parte a parte, tanto de Alexandre de Moraes como do Banco Central, foram insuficientes: não desmentem categoricamente as matérias jornalísticas quanto à existência de encontros e ligações entre Moraes e Galípolo, nem excluem a possibilidade de que, de fato, tenha ocorrido algum tipo de pressão. Mais: a atitude de Dias Toffoli de marcar a acareação entre representantes do BC, BRB e Master em pleno recesso, em um processo que tramita em sigilo absoluto na Corte, aumenta as suspeitas de que os investigadores têm mais a temer do que os próprios investigados.
A pergunta que a grande imprensa brasileira - excetuados poucos jornalistas e meios dentre os quais esta Gazeta - finalmente começa a se perguntar é como chegamos a este ponto e se é possível o país continuar convivendo com este nível de corrupção e arbitrariedade no Supremo Tribunal Federal. Os editoriais e artigos de opinião variam entre uma afetada ingenuidade envergonhada até ao cinismo explícito da justificação das ilegalidades e abusos de Moraes contra a direita brasileira como necessários mas, agora? Chega.
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Não se esconde, portanto, que os abusos do STF durante os últimos seis anos, desde a abertura dos inquéritos ilegais, foram todos perpetrados com a finalidade de perseguição política, pura e simples. Porém, assim como foi utilizada como justificativa para a abertura dos primeiros inquéritos ilegais a matéria da Crusoé sobre as propinas da Odebrecht que teriam supostamente chegado a Dias Toffoli - o “Amigo do Amigo do meu Pai” -, é também para a autoproteção de potenciais ilegalidades dos altos escalões da nem-tão-república que se está a dar continuidade a esse modus operandi judicial de exceção.
A perseguição política que tantos aplaudiram como justificável para os excessos da Corte é na verdade para parte relevante da elite no poder apenas um subterfúgio para um objetivo muito maior: a ação nas sombras e sem nenhum tipo de controle sobre as suas próprias atividades ilícitas. O despertar tardio de parte da imprensa e da opinião pública a esse fato não deixa de ser salutar, mas a dificuldade para reverter a situação criada será tão grande quanto o poder amealhado em demasia em tão pouco tempo por quem deixou de fazer justiça para cuidar prioritariamente de seus próprios interesses.
