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O ditador venezuelano, Nicolás Maduro, cantou neste sábado (15) a canção pacifista "Imagine", de John Lennon, para pedir "paz" aos Estados Unidos.
No ato realizado em Caracas, o chavista acusou a Casa Branca de planejar "bombardear e invadir" a Venezuela e, então, decidiu cantar a emblemática música para "fazer de tudo pela paz, como dizia John Lennon".
A canção seguiu tocando por alguns momentos enquanto o público balançava os braços erguidos de um lado para o outro, gesto ao qual Maduro também aderiu, fazendo o símbolo da paz com as mãos.
"Viva a paz! Que canção tão bela! A letra, que os mais jovens procurem a letra, é uma inspiração para todos os tempos, é um hino para todas as épocas e gerações que John Lennon deixou como presente para a humanidade. Viva a memória eterna desse grande poeta e músico!", declarou.

Além disso, o tirano chavista, "em nome de Deus Pai Todo-Poderoso", decretou "a paz para a Venezuela e a paz para o Caribe e a América do Sul".
O chefe de Estado liderou um ato de juramentação dos chamados Comitês Bolivarianos de Base Integral (CBBI), que são as equipes de trabalho do chavismo localizadas em ruas do país e que terão a tarefa, entre outras, de "defender a pátria de qualquer ameaça" externa.
A Venezuela já está há três meses em mobilização permanente, principalmente militar, em resposta ao que denuncia como "ameaça" dos EUA, em referência ao desdobramento naval e aéreo que, desde agosto, Washington mantém no Caribe, perto da nação sul-americana.
Na última sexta-feira, o Pentágono anunciou a operação "Lança do Sul", que visa combater o narcotráfico na América. A liderança chavista aponta que, com este ato, os EUA buscam "desencadear ações violentas e semear um conflito".
Ainda na última sexta-feira, Trump afirmou já ter se decidido sobre uma possível ação militar na Venezuela mas, não detalhou.
A fala do republicano foi dada pouco depois de o jornal "The Washington Post" revelar que o presidente americano havia se reunido com o secretário de Guerra, Pete Hegseth, e outras autoridades do Pentágono para discutir “várias opções” colocadas sobre a mesa sobre a estratégia militar em relação à Venezuela.
Lennon ou Lenin? Maduro quer alcunha de pacifista mas tortura e mata opositores
Não é de hoje que o chavista pede "paz" e demonstra seu lado "pacifista" para tentar acalmar os ânimos de Donald Trump, mas é a primeira vez que Maduro cita John Lennon — que, além de cantor, era um notório ativista da paz — para evitar uma possível invasão da Casa Branca.
Mas, ao contrário do que pregava o líder dos Beatles ou do que prega o próprio Maduro pós-ameaças da Casa Branca, o chavista comanda uma ditadura que prende, tortura, assassina opositores políticos, mina as liberdades de expressão e religiosa e frauda eleições.

Ano passado, uma investigação feita pela missão da Organização das Nações Unidas (ONU) concluiu que o chavista cometeu crimes contra a humanidade durante o período das eleições presidenciais do país.
O relatório apontava uma "análise contextual, factual e jurídica das graves violações de direitos humanos e crimes cometidos no país entre 1º de setembro de 2023 e 31 de agosto de 2024".
Entre as violações cometidos pelo tirano, estavam "detenções arbitrárias, tortura, desaparecimentos forçados de curto prazo e violência sexual – tudo isso ocorrendo como parte de um plano coordenado para silenciar críticos e supostos oponentes".
"Além disso, tais violações, cometidas com intenção discriminatória, equivalem ao crime contra a humanidade de perseguição por motivos políticos com base na identidade das vítimas", destaca o texto que aponta que menores de idade estavam entre os violados.
Outro relatório, divulgado em 2023 pela Seção de Participação e Reparação das Vítimas (VPRS), do Tribunal Penal Internacional (TPI), detalhou as torturas praticadas pela ditadura venezuelana que envolviam choques na genitálias, estupros e espancamentos.
“Eles maltrataram minha família para me fazer sofrer. Minha esposa foi constantemente abusada sexualmente sob a ameaça de que, se eu não tolerasse, eles não a deixariam me ver”, afirmou um ativista político preso e torturado por agentes do regime de Nicolás Maduro, na Venezuela, no relatório do TPI.
“Eles forçaram nossos filhos a testemunhar como eles tiravam a roupa de sua mãe e avó e eles também queriam tirar as roupas dos meus filhos”, completou, de maneira anônima.
"Meus testículos foram eletrocutados", relata torturado
Na denúncia do TPI, outro sobrevivente corajosamente compartilhou os horrores que vivenciou nas mãos do regime.
“Minhas mãos foram algemadas à cadeira com dois pares de algemas. Eles pegaram um bastão elétrico e o conectaram a uma tomada na parede”, disse.
“Repetidamente, ele foi aplicado em meu peito, enquanto a água era jogada em minha calça, diretamente na minha genitália. Meus testículos foram eletrocutados, fazendo com que eu perdesse o controle da minha bexiga e urinasse fortemente devido ao choque. As cicatrizes das queimaduras permanecem em meu corpo”, relatou a vítima.
Além dos choques elétricos e estupros, durante o período analisado pelo relatório, outras denúncias incluem métodos brutais de tortura, como ameaças de morte, espancamentos, insultos e até ameaças de crucificação.
De acordo com o relatório do Programa Venezuelano de Educação-Ação em Direitos Humanos (Provea), que analisou o ano de 2022, os atos desumanos são realizados por agentes do Estado, principalmente pelo Corpo de Investigação Científica, Penal e Criminalística (CICPC), que foi apontado como responsável em 71,4% dos casos registrados.
“A maioria destas pessoas é vítima de tratos desumanos e degradantes dentro de nossas prisões. As condições de reclusão, não só dos presos políticos, mas de todos os presos deste país geram esse padrão massivo de violações dos Direitos Humanos”, destacou a coordenadora da pesquisa do Provea, Lissette González, durante a apresentação do relatório.
O texto também ressalta a recorrente impunidade generalizada que prevalece no sistema de justiça venezuelano. Desde 2017 até 2023, apenas 358 funcionários do Estado foram sentenciados por violações dos direitos humanos, o que acaba sendo um número insignificante se considerarmos que mais de 17.943 vítimas foram registradas no período.