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Favela do Moinho, no centro da cidade de São Paulo. (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

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“Crescimento econômico” e “desenvolvimento econômico” são duas expressões presentes em estudos e análises econômicas e sociais sem que a distinção entre ambas seja identificada com precisão e, principalmente, sem que a sociedade compreenda a diferença essencial. O crescimento econômico diz respeito especificamente ao desempenho nacional em termos do aumento das quantidades de bens materiais e serviços produzidos. Em primeiro momento, surge como óbvio que, se o país aumentar as quantidades produzidas ano a ano, as possibilidades de melhoria do padrão de vida da população se tornam reais, pela simples razão de haver maior quantidade de produto à disposição da sociedade.

Em segundo momento, o aumento das quantidades produzidas deve ser comparado com a variação da população, pois as possibilidades de melhorar o padrão de vida dependem de que a população não aumente a uma taxa igual ou maior que a taxa de crescimento do produto total do país. O indicador mais usado para mensurar o desempenho da produção é o Produto Interno Bruto (PIB), calculado segundo metodologia mundialmente aceita. Mesmo que o PIB cresça mais que a população, a passagem para o conceito de desenvolvimento econômico exige que sejam verificados indicadores mundialmente usados para representar melhoria da qualidade de vida da população, tais como a redução da miséria e da pobreza, as alterações na distribuição de renda e os indicadores sociais relevantes, como saúde, educação e aumento no bem-estar social médio da população provado por dados adequados.

O Brasil já perdeu várias janelas de oportunidade para se tornar um país desenvolvido

Um dos indicadores criados para identificar o desenvolvimento econômico e social é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), criado em 1990 com o objetivo de identificar o grau de desenvolvimento da população a partir da renda por habitante, do nível educacional e das condições de saúde. A Organização das Nações Unidas (ONU) aderiu à metodologia e passou a calcular o IDH dos 193 países filiados a ela e a classificá-los em termos comparativos. O IDH é apresentado em uma escala que vai de 0 a 1, com três casas após a vírgula; quanto maior o número obtido por um país, maior é seu nível de desenvolvimento e qualidade de vida. Dizendo de outra forma, a ONU coleta aqueles três indicadores existentes no país (renda, educação e saúde) e transforma o nível de qualidade verificado em uma nota numérica, partindo da premissa de que quanto melhores as condições nos três indicadores, mais elevado é seu desenvolvimento econômico e social.

Os países que ocupam os três primeiros lugares em grau de desenvolvimento são Islândia (índice 0,972), Noruega (0,970) e Suíça (0,970). Os Estados Unidos estão na posição 17 (0,938), a Argentina fica na posição 47 (0,865) e o Brasil, na posição 84 (índice 0,786). Há 36 países com IDH acima de 0,900, que são os países desenvolvidos; e há 43 países com IDH abaixo de 0,600, aqueles considerados muito pobres. É importante destacar que esses índices mudam o tempo todo; logo, mesmo que não ocorram variações espetaculares em curto prazo, a colocação de cada país muda. Em geral, não ocorrem alterações expressivas em poucos anos, pois o desenvolvimento econômico é algo que cresce lentamente.

Um aspecto importante para avaliar a evolução do bem-estar social mundial é que, quando se desconta a taxa de crescimento populacional, a taxa de crescimento do PIB que resta (o PIB por habitante) em geral não é expressiva. No caso do Brasil, quando se olha a taxa de crescimento do PIB desde os anos 1950 até hoje, essa taxa é tida como expressiva, comparada com o resto do mundo. Porém, a população brasileira saiu de 52 milhões em 1950 e atingiu 213,4 em julho de 2025, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Logo, a taxa de aumento do PIB por habitante nesses últimos 75 anos não foi expressiva quando se desconta a taxa de aumento da população, e também não foi grande o suficiente para eliminar a miséria, reduzir significativamente a pobreza e aproximar o país das nações desenvolvidas.

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Como já demonstrado por estudos sobre o desenvolvimento brasileiro, a desigualdade de renda entre as classes sociais é considerada grande demais e responsável pela enorme fração da população agrupada nas camadas miseráveis, pobres e muito pobres. Chama a atenção que entre as causas dessa desigualdade estão a alta carga tributária, os salários médios no sistema estatal maiores que no setor privado para funções equivalentes, as aposentadorias pagas aos funcionários públicos muito mais altas que os empregados privados, e o baixo nível educacional médio dos 105 milhões de brasileiros componentes da população economicamente ativa. Enfrentar esses quatro problemas, como forma de aumentar as taxas de crescimento e reduzir as desigualdades a fim de eliminar a miséria e reduzir a pobreza, é tarefa inglória em face da estrutura política e do sistema legal do país.

A rigor, o crescimento econômico deveria ser um objetivo abraçado em conjunto pelo governo e pela sociedade. Porém, o crescimento depende de um conjunto de fatores que o Brasil não consegue obter, a exemplo de liberdade econômica, liberdades políticas, equilíbrio das contas públicas, controle da dívida do governo, controle da inflação, tributação simples e moderada, leis boas e estáveis, estabilidade política, justiça rápida e eficaz, abertura internacional e aumento dos investimentos em infraestrutura física, além de outros. O Brasil perdeu várias janelas de oportunidade para se tornar um país desenvolvido e, a continuar a atual crise política e judicial que se arrasta há tempo, o país não conseguirá sair da atual posição ruim no ranking do desenvolvimento das nações, a despeito de ser um país rico em recursos naturais.