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O mais recente Índice Mackenzie de Liberdade Econômica Estadual (IMLEE 2025), com base nos dados de 2023, mostra sinais de melhora na liberdade econômica entre as unidades da federação. Depois de anos de deterioração – especialmente entre 2020 e 2022, período fortemente afetado por políticas intervencionistas e aumento do gasto público –, o índice revela uma recuperação parcial, embora ainda insuficiente para recolocar o país em trajetória sólida de liberdade e prosperidade.
O Brasil como um todo continua num patamar modesto. No ranking internacional do Economic Freedom of the World 2025, do Fraser Institute, o país aparece apenas na 87ª posição, com nota 6,57 em uma escala de 0 a 10. Ou seja, mesmo que alguns estados brasileiros apresentem bons resultados dentro do contexto nacional, todos operam em um ambiente institucional onde a liberdade econômica ainda é restrita.
O IMLEE evidencia uma forte disparidade regional. Estados do Sudeste e Sul dominam as primeiras posições, com destaque para São Paulo, Goiás, Espírito Santo e Rio de Janeiro, que formam o grupo das jurisdições mais livres do país. Já os estados do Norte e Nordeste concentram-se nos quintis inferiores, representando os ambientes menos favoráveis ao empreendedorismo e à livre iniciativa.
O mapa da liberdade econômica é também um retrato das desigualdades estruturais brasileiras. Onde há maior desenvolvimento, há mais liberdade; onde o Estado é mais pesado e as regras mais rígidas, a economia tende a ser menos dinâmica. Essa relação, observada ano após ano, reforça que crescimento e liberdade caminham juntos.
Mais liberdade econômica não significa ausência de governo, mas sim governos mais eficientes, previsíveis e restritos ao essencial: garantir segurança jurídica, estabilidade fiscal e regras claras para a livre iniciativa
O IMLEE mede a liberdade com base em três dimensões: (1) gastos dos governos subnacionais; (2) tributação; (3) regulação no mercado de trabalho. Cada uma delas revela um aspecto distinto – e complementar – da presença (ou interferência) do Estado na economia.
Nos gastos públicos, o índice mostra leve melhora, mas o setor público ainda é grande e oneroso. Estados do Sul e Sudeste lideram com melhores notas, enquanto Norte e Nordeste continuam marcados por forte dependência de transferências e altos custos administrativos. Essa estrutura reforça a necessidade de reformas fiscais e previdenciárias locais para reduzir o peso do Estado e liberar recursos para o setor produtivo.
Na tributação, o diagnóstico é mais preocupante. Essa é a dimensão com os piores resultados nacionais: a maior parte dos estados tem notas entre 0 e 3 em uma escala de 0 a 10. Em outras palavras, o sistema tributário continua sendo o principal entrave à liberdade econômica. Estados que receberam nota zero não são os que não arrecadam, mas sim os que mais tributam em proporção à renda das famílias – o que sufoca a competitividade e limita a geração de empregos.
Já a regulação no mercado de trabalho mostra evolução moderada. Os estados mais livres (como São Paulo, Goiás e Espírito Santo) são justamente aqueles com menor peso do emprego público e menor densidade sindical. A rigidez salarial e a presença estatal no mercado de trabalho, porém, seguem como barreiras à modernização e ao aumento da produtividade.
O desempenho de 2023 marca um ponto de virada. A maioria dos estados apresentou melhora, refletindo um ambiente econômico mais estável e uma leve recuperação pós-pandemia. Destaques positivos incluem Pernambuco, Bahia e Paraíba, que registraram avanços expressivos – superiores a 30% – em relação ao ano anterior. Por outro lado, Roraima foi o único estado com recuo, e alguns, como Acre e Tocantins, mostraram progresso tímido.
Ainda assim, o ganho médio nacional demonstra que há espaço para políticas locais mais voltadas à eficiência, previsibilidade e desburocratização, que possam consolidar essa tendência de melhora. Neste sentido, avançar com a adoção da Lei da Liberdade Econômica por parte de estados e municípios é uma condição essencial.
Um ponto fundamental precisa ser esclarecido: o IMLEE não mede o desempenho do governo estadual e sim o ambiente econômico da jurisdição estadual como um todo – que inclui o governo do estado e todos os seus municípios. Assim, avanços ou retrocessos no ranking refletem decisões conjuntas entre diferentes níveis de governo, além de influências do governo federal.
Mais liberdade econômica não significa ausência de governo, mas sim governos mais eficientes, previsíveis e restritos ao essencial: garantir segurança jurídica, estabilidade fiscal e regras claras para a livre iniciativa.
O Brasil avança, mas devagar. O resultado do IMLEE 2025 é um lembrete de que, sem liberdade econômica, não há crescimento sustentável. Estados com marcos regulatórios mais simples, impostos menos distorcidos e contas públicas equilibradas atraem mais investimentos e geram mais prosperidade.
O país precisa consolidar esse avanço e transformar pequenas melhorias em reformas estruturais que reduzam o peso do Estado e aumentem o espaço do cidadão e do empreendedor. A liberdade econômica é uma condição indispensável para que o Brasil cresça de modo sustentável. O IMLEE 2025 mostra que a liberdade econômica está viva, mas ainda cercada por barreiras. O desafio é transformá-la em força motriz de um novo ciclo de desenvolvimento – mais livre, competitivo e próspero.
Vladimir Maciel é economista, mestre em Economia de Empresas e doutor em Administração Pública e governo, com partial doctoral fellowship no Department of Urban Studies and Planning do MIT. Coordenador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica, conselheiro superior do Instituto Liberal, membro da Mont Pèlerin Society e do Núcleo de Estudos Urbanos da Associação Comercial de São Paulo.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos